quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Perspectivismo x Relativismo

Ao se deparar com essas palavras, o que elas denotam? O que elas a nós significam? Relativismo poderia ser entendido puramente como não existência de absolutos?

Na filosofia, o relativismo implica em uma designação não assumida por nenhuma escola filosófica e está relacionado à teoria do conhecimento.

Para Platão, conhecimento é uma descoberta alcançada por uma tecnologia e essa tecnologia é a tarefa da filosofia, sendo fundamentalmente racional, como uma verdade. Conhecimentos válidos são aqueles logicamente sustentados e constituídos. Por sua vez, as opiniões têm graus de aproximação e distanciamento da verdade. Qual seria então a diferença entre relativismo e a critica que Platão faz a opinião?

Algumas opiniões se aproximam da verdade, mas não são a verdade em si, assim como algumas se afastam da verdade, mas não são necessariamente falsas. Segundo Aristóteles, não é possível a existência de uma ideia falsa, pois a ideia falsa, por natureza, é incompreensível, é aquela que se apresenta ilógica.

A questão então é saber qual o grau de distância ou de proximidade que essas opiniões chegam da verdade.

O relativismo por sua vez, admite que dois lados tenham posições lógicas sobre algo, admite-os como verdadeiros. Comporta a possibilidade da verdade entre conhecimentos opostos, contraditórios, posições distintas, mas que se valem das mesmas constituições lógicas. As opiniões não são sustentadas nessa mesma base, elas decorrem fundamentalmente de valores, uma apreensão que se tem de uma vida prática, uma experiência cultural.

Em relação ao perspectivismo, Nietzsche dissolve a noção de que o conhecimento é “verdadeiro” e que existe uma verdade. Afirmando que o conhecimento não precisa ter métrica e, assim como a opinião e a ciência, é sustentado por valores. Como diferenciar então conhecimento perspectivo de opinião ou relativismo?

O conhecimento para Nietzsche é ato de criação e se este não for oriundo de um ato de criação, se torna a repetição de algo já estabelecido. Só é conhecimento aquilo que é criado e produzido. Sendo assim, o que nos garante que esse conhecimento é verdadeiro? Nada. Quando um conhecimento é criado, este o faz como ato de potência daquele que o produziu, então o risco de ficar preso a esse enunciado como verdadeiro é eminente.

Ao criar conhecimento, o filósofo cria perspectivas e as experimenta, fugindo da adoção de perspectivas já existentes. Sendo a experimentação seu ato validador, ou seja, para se criar conhecimento é preciso adotar um “ponto de vista” para elaborar a criação de um novo, que pode ou não diferir do anterior, mas só podemos validar a existência desta diferenciação a partir da experimentação. Perspectivas não devem ser adotadas, devem ser criadas. 

Nietzsche indica que o procedimento para a produção de conhecimento é dizer sim à vida, o que torna possível experimentar diversas perspectivas. Para Nietzsche, experimentar é viver. Entretanto, dizer sim a vida não é aceitar tudo que vem, a passividade frente à vida denota fraqueza, também não é negar tudo que vem, é saber que viver a vida é fonte rica de experimentações. Porém, aqui se constitui um problema, tentarmos a partir de uma experiência, torná-la outra, transformar o normal em patológico ou o patológico em normal, o bom em mau ou o mau em bom, se algo é experimentado como mau não há razão nenhuma para torná-lo bom mesmo que o resultado venha a ser agradável. As possibilidades de experiência não podem ser misturadas. 

Nesse sentido o perspectivismo não nos ajuda a julgar conhecimentos, pois eles não são diferentes quanto a qualidade acadêmica. Não experimentar outras perspectivas implica em não criar outros conhecimentos, se o que nós produzimos não é criação é apenas uma adoção de valores. Como se pode notar, a criação não é fácil, como solução, Nietzsche adota um estilo aforismático, permitindo experimentar perspectivas. 

Por fim, o perspectivismo não aceita a avaliação de verdades. Ele é a capacidade de produzir filosofia de diversidades de circunstâncias da vida e experimentar esses pensamentos. As criações mais fascinantes são as ambíguas, onde não se consegue dizer se algo é bom ou ruim, ou fazer o exercício de tornar algo que é bom em ruim e vice versa, mesmo que dissolver os juízos de valores seja algo muito difícil. Se não formos capazes de criar nada que não seja a partir de um livro ou algo que nos tenha sido posto, também não temos perspectiva sobre nada.

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