segunda-feira, 1 de agosto de 2016

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Oficina Cinemática "Pode um filme ser um ato de teoria?"

No seminário concentrado Didática da tradução e transcriação do currículo: sobre o projeto Escrileituras que ocorreu na cidade de Pelotas no início desse mês, o EFF, teve a oportunidade de planejar e realizar uma Oficina de Transcriação. 

A escolha que fizemos em relação ao tema se deu a partir das recentes pesquisas e experimentações do grupo, tendo em mente as possibilidades de transcriação e tradução do pensamento. Nesse sentido, pensamos a oficina cinemática: Pode um filme ser um ato de teoria?

O nome e os drops filmicos utilizados para compor a oficina foram pinçados de um artigo de Jacques Aumont que traça a(s) (im)possibilidades de um filme (ou cinema) ser uma teoria, em teorizar.

Após uma breve exposição das ideias e de assistirem a alguns drops de filmes retirados do texto de Aumont, os participantes foram divididos em pequenos grupos, onde cada grupo recebeu um fragmento de texto de autores clássicos da literatura e/ou filosofia. Solicitamos a cada um dos grupos que traduzissem os fragmentos de texto recebidos em um material audiovisual.

A Oficina cinemática durou cerca de quatro horas, onde uma hora foi reservada para a roteirização, filmagem e edição da produção de cada grupo. 

Levando em conta o pouco tempo e os poucos recursos utilizados, os resultados foram surpreendentes, separamos abaixo alguns dos espectros cinemáticos - curtas, fragmentos audiovisuais experimentais, tentames de pensamento audiovisual - produzidos para que vocês possam conferir.

             
                                Tempo  

Produção: 
Louise Gomes 
Vinícius Borges
Natany Martins
Iris Belatto
Layane Buosi
João Batista Santos

                                                                                        Fédon Sebastião

Produção:
Cintia Langie
Gustavo de Oliveira
Josimara Cchwantz
Marcelo Borba


                       Filosofia na Alcova

Produção:
Juliana Zaffalon Rodrigues
Ronaldo
Jussara Duarte
Mônica Corrêa de Borba Barboza
Cassius André Souza

                                                                                    Ecce Homo

Produção:
Alessandra Abdala
Poly Olini
Lisandra Osorio
Juliana Antunes Souza


                               Breviário

Produção:
Carla Melissa Scalzitti
André Macedo
André Barbachã
Catia Carvalho
Valquíria Stephan

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Expressionantes Impressões

Escrileituras ... escriler
Como fazer o que ainda não fiz?
Que deleite sem Deleuze?
Como fouror sem Foucault?
Se pode arribar sem Derrida?
Inauguro maio na Satolep fria
pervertendo versos de paixão Ramil

Valéry, quero te ler
Só pra te entender


Escrileitura, à feição de um gancho potente, 
articulado, desses que podem pinçar
espíritos por seus cangotes e
transportá-los, esteira-viva para tantos lados, para outros pagos

E EIS aqui o AICE! 
O que veio antes o que só é na composição 
com quem faz ser que é quem anuncia

AICE é vulcão ardente, 
EIS o caminho da lava.

AICE não é ser de gelo mas
é refrigério n'alma

Produz em frescor na ideia
Cuca fresca, tal qual hálito mentolado, 
EIS o enunciado.

Irrequieta, do infantil que AICE em mim 
imprimo em versos as expressionantes impressões
que enfim. Assino aqui de trás pra adiante.

Anailuj Senutna Azuos
Satolep, 4 de maio de 2016.

Juliana Antunes Souza
Psicóloga da UFPel - Pelotas - RS

Texto produzido e lido por Juliana - uma das participantes do Seminário concentrado - Didática da tradução e transcriação do currículo: sobre o projeto Escrileituras - durante o encerramento de nossas atividades. 
Obrigada Juliana, por compartilhar conosco suas Expressionantes Impressões.



terça-feira, 10 de maio de 2016

Seminário concentrado - Didática da tradução e transcriação do currículo: sobre o Projeto Escrileituras.




Na última semana, nos dias 2, 3 e 4 de maio, aconteceu na cidade de Pelotas - RS, o Seminário concentrado - Didática da tradução e transcriação do currículo: sobre o Projeto Escrileituras, e o EFF estava lá!



Tenho certeza que não falo só por mim ao dizer que se tratou de uma experiência rica e incrível, a generosidade na tradução de seus conhecimentos por parte dos componentes das mesas foi louvável.







Após muuuitas horas de viagem, entre trechos de avião e ônibus, os (cansados) últimos moicanos chegaram no dia 1/5, domingo, a Pelotas.




Com a manhã do dia 2/5 livre, nós saímos pra turistar um pouquinho, porque ninguém é de ferro né?












Então, claro, rolou uma voltinha básica pelo lindo centro histórico de Pelotas.












E o EFF só que congela!

Mas chega de passeio e vamos ao que interessa né?

Após um almoço caprichado, fomos para o ICH da UFPel para participarmos da mesa de abertura do seminário, composta pelos coordenadores dos quatro núcleos do projeto Escrileituras que se encerrou no ano de 2014.


Então foi a hora do Quad fantástico mostrar a que veio!


Como a maioria dos inscritos no seminário não participou diretamente do projeto Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio a vida, a Prof. Drª Carla Gonçalves da UFPel, nossa anfitriã, abriu o seminário falando do projeto. 

O projeto Escrileituras foi desenvolvido sob a coordenação geral da Profa. Dra. Sandra Mara Corazza entre os anos de 2011 e 2014, com núcleos de realização em quatro universidades brasileiras: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Universidade Federal de Pelotas (UFPEL); Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Coordenados respectivamente pela Profa. Dra. Sandra Mara Corazza (UFRGS); Profa. Dra. Carla Gonçalves Rodrigues (UFPEL); Profa. Dra. Ester Maria Dreher Heuser (UNIOESTE) e pelo Prof. Dr. Silas Borges Monteiro (UFMT).

Logo após veio a fala do Prof. Dr. Silas, Esporas otobiográficas: traduções feitas por um grupo de pesquisa do projeto Escrileituras, Prof. Drª Ester, Construcionismo de uma crítica genealógica de escrileituras e fechando a primeira mesa a Prof. Drª Sandra.

E assim foi o primeiro dia do EFF em Pelotas.
Renovados, nossa terça-feira foi longa e muito proveitosa, tivemos uma mesa pela manhã (foto a direita) com a Profª Ester, e as orientandas da Profª Sandra, Ana, Polyana e Fabiane. E a mesa da tarde (foto a esquerda) foi composta pela Profª Drª Sandra Corazza e sua Doutoranda Idalina Krause da UFRGS - RS.

 

O período da noite ficou reservado as programações culturais, o cine UFPel foi palco da mostra e discussão dos filmes Papel-Máquina e Paixões, produzidos no contexto de estudos e pesquisas do EFF. 







Após a mostra dos filmes o EFF juntamente com a Profª Carla organizou e executou uma intervenção com a leitura das 50 Teses sobre Escrileituras







                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    Essa atividade precedeu a noite de autógrafos realizada em decorrência do lançamento dos cadernos de notas 6, 7 e 8 do projeto Escrileituras. Mas não para por aí, o caderno de notas 9 já está quase pronto e o 10 na mira.
O último dia do seminário ficou por conta dos núcleos Pelotas e Cuiabá, pela manhã tivemos uma mesa com a Profª Drª Carla Rodrigues e sua Orientanda de Doutorado Josimara Wikboldt, que nos deram uma super aula sobre as oficinas de Escrileituras e sobre método.


A última atividade, como não podia ser diferente, tratou-se de uma oficina de transcriação oferecida pelo EFF sob coordenação do Prof. Dr. Silas Borges Monteiro. 


A oficina cinemática Pode um filme ser um ato de teoria? foi elaborada pelo núcleo Cuiabá do Grupo de Estudos Escrileituras, isso mesmo, o projeto pode ter acabado, mas não seus desdobramentos, com o fim do projeto, foi criado um grupo de estudos que leva o mesmo nome. A oficina cinemática proposta pelo EFF fechou com chave de ouro esse incrível seminário. Parafraseando a Josimara, não tem como tentar colocar fim a algo que é infinito.


Obrigada a todos!

quarta-feira, 23 de março de 2016

Defesa de Dissertação - Aline Campos

Aconteceu hoje no Auditório 68 do Instituto de Educação da UFMT a defesa da dissertação de Aline Campos.



   A dissertação intitulada “A mulher que logo sou: estilo, escritura e otobiografias” teve como objetivo um movimento de aproximação ao gesto otobiográfico enquanto recurso metodológico para a escuta das vivências que habitam o texto, a produção própria. Esses textos consistem em escrileituras, resultadas da Oficina de Transcriação (OsT) Vita Femina. 
   O foco da pesquisa otobiográfica está em se ouvir as vivências que tracejam a produção escrita, da vida­ biografada nas produções. O que se pretende ouvir? As vivências que tracejam os escritos, as forças que põem em movimento o texto, as criações do autor que levam a sua assinatura única, isto é, a vida do autor afirmada em sua assinatura. 
   Dessa questão inicial suscitam as possibilidades quanto a composição de estilos próprios. Estilos que, aqui, tracejam e permeiam as produções escritas por essas alunas como resultado da Oficina de Transcriação “Vita Femina”.

Parabéns Professora Aline, Mestre em Educação!

terça-feira, 22 de março de 2016

Defesa de Dissertação - Fernanda Leonel

Aconteceu hoje no Auditório I do Instituto de Educação da UFMT a defesa da dissertação de Fernanda Leonel


   A dissertação intitulada “Tessitura da Individuação: como o Aluno a Oficial da Academia de Policia Militar Costa Verde se torna o que é” teve por objetivo noticiar práticas de pesquisa na Academia de Polícia Militar de Mato Grosso, que concebem na filosofia da diferença o entendimento da constituição de si dos alunos. 
  Através do método otobiográfico, propõe-se ouvir a vida escrita dos participantes da pesquisa, que dão nome à própria história através de Oficinas de Transcriação. Os textos produzidos, encarados como assinatura no sentido derridiano, dão conta do seu caráter autobiográfico. Revelam potências de vida, caminhos de uma vivência que tecem a individuação.

A Banca foi composta pelo orientador Prof. Dr. Silas Borges Monteiro, examinador externo Prof. Dr. Gabriel Leal e examinadora interna Profª Drª Emília Carvalho Leitão Biato.

Parabéns Fernanda, Mestre em Educação!

terça-feira, 15 de março de 2016

Seminário Temático - Rastros, Cicatrizes: Tecnologias de Vida.

Acontece nos dias, 21, 22, 23 e 24 de março na UFMT o Seminário Temático - Rastros, Cicatrizes: Tecnologias de Vida. 

Oferecido pelo EFF, o seminário conta com uma diversa programação, mostra cinematográfica, mesas e defesas de dissertações. Corra e garanta sua inscrição, na sala 69 do IE, na Coordenação do Programa de Pós Graduação em Educação da UFMT.





Confira a programação completa:

21/3/2016 – 18:00h as 22:00hMostra Universitária dos Filmes: Papel Maquina, Khora e Paixões. Teatro da UFMT.

22/3/2016 – 8:30h as 12:30h: Mesa redonda com Prof. Dr. Gabriel Leal e Prof. Drª. Emília Carvalho Leitão Biato. Auditório I do IE.

22/3/2016 – 15:00h as 19:00hDefesa de Mestrado de Fernanda Leonel Machado – “Tessitura da Indivuduação: como o Aluno a Oficial da Academia de Polícia Militar Costa Verde se torna o que é”. Auditório I do IE.

23/3/2016 – 9:00h as 13:00hDefesa de Mestrado de Aline de Souza Campos – “A mulher que logo sou: estilo, escritura e otobiografias”. Sala 68 IE.

24/3/2016 – 8:30h as 12:30hMesa redonda com Prof. Dr. Henrique de Oliveira Lee, Prof. Drª. Vera Lúcia Blum e Prof. Dr. Luciano Bedin da Costa. Auditório I do IE.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Paixões

Aconteceu ontem no teatro da UFMT a gravação do filme Paixões. O filme Paixões nasceu da experiência de leitura do livro homônimo de Jacques Derrida, escrito em 1995. 



O livro, em Derrida, opera como máquina de pensamento, mesmo que não seja possível atribuir a ele uma força intrínseca de produção. Paixões se desenvolve em 4 cenas, extraídas, na verdade roubadas, dos 4 primeiros capítulos do livro de Derrida. 







De seu texto roubado, das cenas compostas pelo livro, são traduzidas por outras vivências com o texto. As palavras nascem do livro derridiano, mas o texto não lhe pertencem mais.









O grupo Estudos de Filosofia e Formação (EFF) realiza há mais de 10 anos o estudo com filósofos da diferença e seus conceitos. Temos como foco principal a produção de artigos e participação em eventos acadêmicos, porém, acreditamos que não é só desta maneira que seja possível divulgar os estudos conceituais tidos em grupos. Seminários temáticos e palestras são de extrema importância, mas, por que não a produção cinematográfica? 


 



O filme Paixões, que contou com o financiamento do Pró Cultura (Programa de Apoio à Cultura, Esporte e Vivência Universitária), através de recursos audiovisuais, é também uma forma de fazer com que  o pensamento derridiano seja traduzido em imagens, sons e sensações. De maneira a desestabilizar quem o assiste e provocar o pensamento e promover vivências únicas com as quatro cenas do filme. 









Paixões é o segundo filme criado no contexto de trabalho do Grupo de Pesquisa. Agradecemos a todos que estiveram com o EFF nessa produção.

Fotos: Poly Olini

Didática da tradução e transcriação do currículo: sobre o projeto Escrileituras


Acontece nos dias 2, 3 e 4 de maio na cidade de Pelotas - RS, o Seminário concentrado - Didática da tradução e transcriação do currículo: sobre o projeto Escrileituras".


O seminário fica por conta dos Professores, Sandra Corazza, Carla Rodrigues, Ester Heuser e Silas Monteiro, coordenadores dos quatro núcleos do projeto Escrileituras.

domingo, 8 de novembro de 2015

O caminho é a educação: democracia e instinto de rebanho em Nietzsche


O título não tem nada de inusitado. Mas creiam, esse senso comum também foi dito por Nietzsche. Caberia em qualquer livro de auto-ajuda pedagógico ou em palanques eleitorais. Nesse espaço não terei como mostrar o texto todo. Inicio interrogando o tema proposto: “Democracia e Educação”. Seria necessário mais tempo de estudo, mas minha impressão inicial é que juntar essas duas palavras na mesma frase é um costume moderno. Parece-me que diz respeito a vínculos iluministas. Mas, efetivamente, essas duas palavras comparecem juntas com mais frequência no século XX, mais especificamente em sua segunda metade. O que significa dizer que, diferente do que parece à maioria, a operação destas duas palavras na construção de uma ideia é uma construção social recente. Com isso, quero dizer que não há associação natural entre elas; foi uma opção que a sociedade ocidental fez a pouco tempo. Também com isso pretendo desnaturalizar uma ideia que parece, a muito ouvidos, como uma vinculação necessária e óbvia.

Os gregos, inventores da democracia, pressupunham a importância da educação; mas a compreensão que tinham de democracia era bem diferente do que entendemos hoje. Do mesmo modo, a educação – se temos nos gregos boa parte de nossa inspiração – aproxima-se de nosso ideal, diria quanto a uma espécie de conteúdo ou currículo, mas os destinatários da educação são bem diferentes.

Como disse, parece ser um ideal iluminista a extensão da educação a todos, e aqui está a peculiaridade da compreensão moderna: a educação deve ser dada a todos. Apesar que sempre houve problematização desse “todos”: num momento muito recente estava fora do “todos” os analfabetos; identificar todos como universalização da participação é algo muito recente. Do mesmo modo, a educação para todos excluía, há pouco tempo, filhos de determinadas classes sociais.

Simplificando um pouco, citaria o movimento dos pioneiros da educação como um empenho em tornar o entendimento desse todos como “universal”. O lema dos artigos e panfletos de debate escritos por Anísio Teixeira era de “A educação é um direito de todos”. Apresentar os argumentos e a extensão do debate requer outro momento. Quero apenas insistir na ideia de que aquilo que para nós é senso comum já foi objeto de intensa luta pelos movimentos sociais no Brasil e no mundo.

Minha pretensão nesse texto é colocar, a partir de Nietzsche, o dedo nesse senso comum, procurando argumentar que há diferença entre garantir a universalidade do acesso à educação e tornar a educação um destino para todos. Com isso quero defender a tese de que a educação, em um país democrático, deveria estar aparelhada para dar as condições de acesso e estudo a todos que a tem como destino de si mesmo, e não como uma etapa obrigatória de todo cidadão. E aqui coloco meu questionamento mais especificamente voltado à Educação Superior. Concordo com o fato de que as crianças devem ter pouco

espaço para arbitrar sobre seu destino, daí a necessidade de submetê-las ao sistema educacional obrigatório. Contudo, cumprido a etapa obrigatória – pela aquisição das competências e habilidades fundamentais: ler, escrever e calcular – o estado deveria estar preparado para atender o destino que cada um – e não todos – coloca-se para si.

Democracia e educação: Nietzsche como contraponto

Democracia e educação não foram os temas prediletos de Nietzsche. Apesar de ter feito uma série de conferências Sobre o futuro das instituições de ensino na Alemanha e de escrever uma de suas Considerações Extemporâneas sobre Schopenhauer como educador, não me parece que a educação tenha sido seu mote principal. Por outro lado, ao pensar um projeto de formação de si não deixa de mostrar como a educação de seu tempo criava um ambiente desfavorável à essa importante tarefa que cada um tem para consigo.

Do mesmo modo, democracia não é um assunto motivador para o autor de Assim falou Zaratustra. Não gasta muito tempo refletindo sobre as questões da política como outros filósofos fizeram. Contudo, tem em mira ataques bem ordenados ao instinto humano mais primário, o instinto de rebanho: daí verá na democracia o maior aliado para a alimentação desse impulso.

Em minha compreensão, o período em que Nietzsche mais escreve sobre educação é em sua fase inicial, compreendia entre 1870 e 1876. Está embalado pelo helenismo; confia na arte como educação dos sentidos e da razão. Aposta na tragédia como expressão primordial da vida. E ensaia suas primeiras reflexões sobre o que poderíamos chamar, em seus últimos textos, da tarefa de ser o que se é. Sobre democracia, vejo principalmente em dois momentos a concentração de fragmentos: no Andarilho e sua sombra (escrito em 1881) e no caderno 34 de abril a junho de 1885. Não serão amenas suas palavras contra a democracia.

Entre abril e junho de 1885 escreverá: “Não me entenda mal: eu queria explicar com esse livro o por quê do surgimento do Reich alemão manteve-me indiferente: eu o vejo como um passo a mais na democratização da Europa — nada mais, nada novo. A Democracia, no entanto, é a forma de decadência do estado, uma degeneração da raça, um predomínio do malsucedidos: isso eu já disse uma vez”. (Fragmento póstumo 34 [146] de abril-junho de 1885). Expressão da degeneração, pois dissolve o singular no coletivo; ignora o peculiar em nome do corriqueiro. Pois ser único é resultado de empenho. Por isso dirá: “A democracia europeia é a menor parte de um desencadeamento de forças: sobretudo é um desencadeamento de preguiça, de cansaço e de debilidades.” (Fragmento póstumo 34 [164] de abril-junho de 1885) E vê não apenas a democracia como resultado dessa cultura do aplainamento, mas em sua origem vê o cristianismo, o que significa dizer que, para Nietzsche, a origem da democracia é, fundamentalmente, o pensamento cristão: “— Democracia é o cristianismo naturalizado: uma espécie de “retorno à natureza”, depois só poderá ser superada por uma extrema anti-naturalidade. — Consequência: dali em diante se desnaturalizou o ideal aristocrático (“o homem superior”, “nobre”, “artista”, “paixão”, “conhecimento”, etc). Romantismo como culto da exceção, gênio, etc.” (Fragmento póstumo 10 [77] do outono de 1887) Em O andarilho e sua sombra, § 275, parece ver que a democratização da Europa é um elo na cadeia das tremendas medidas profiláticas que são a ideia do novo tempo, e com que nos distinguimos da Idade Média. Dirá: “Agora é o tempo das construções ciclópicas!”, ou seja, ultrapassadas e sem segurança.

A educação não terá tratamento menos severo. No Fragmento póstumo 16 [6] da primavera-verão de 1888 escreve: “A educação: um sistema de meios visando a arruinar as exceções em favor da regra. A instrução: um sistema de meios para dirigir o gosto contra a exceção a favor dos medíocres. Visto assim, isto parece duro; mas, de um ponto de vista econômico, é completamente racional. Pelo menos para o longo período em que uma cultura se mantém ainda com sacrifício, onde toda exceção representa um dispêndio de força [algo que desvia, seduz, torna doente, isola]. Uma cultura da exceção, da experimentação, do risco, do matiz — uma cultura de estufa para as plantas excepcionais não tem direito à existência senão quando há muitas forças para que mesmo o dispêndio se torne “econômico”.”

Assim como a democracia, a educação visa a arruinar a exceção. Seu afeto está na regra, no ordinário, no comum. E reconhece que uma educação para a exceção teria efeitos financeiros nefastos no poder do estado. É mais racional, do ponto de vista econômico, tratar cada um como uma simples espécie do todos. E, de preferência, se elimina desse espaço aqueles que com ele não se conformam. Para Nietzsche, a limitação econômica leva ao convencimento racional: igual para todos é melhor do que diferente para cada um. Abaixo a diferença! Mesmo assim, desconfia da capacidade da educação em criar um novo tipo de ser humano. Em certo tom finalista, afirma: “Não é possível que um homem não tenha no corpo a qualidade e a predileção dos seus pais e ancestrais: mesmo que as evidências afirmem o contrário. Este é o problema da estirpe. Supondo que se conheça algo dos pais, é permitido uma conclusão a respeito do filho: alguma intemperança repulsiva, alguma inveja mesquinha, um maneira rude de sempre dar-se razão — as três coisas juntas constituíram sempre o autêntico tipo plebeu —, têm de passar para o filho, tão seguramente como o sangue corrompido; e com a ajuda da melhor educação e cultura não se consegue mais enganar a respeito dessa herança. — E outra coisa não desejam hoje a educação e a cultura! Em nossa época popular, ou melhor, plebeia, “educação” e “cultura” têm de ser, essencialmente, arte de enganar — enganar quanto à origem, quanto à plebe herdada no corpo e na alma. Um educador que atualmente pregasse a veracidade acima de tudo, gritando continuamente a seus estudantes (Züchtlingen): “Sejam verazes! Sejam naturais! Mostrem-se como são!” — mesmo um tal ingênuo e virtuoso asno aprenderia, após algum tempo, a tomar daquela furca [forcado] de Horácio, para naturam expellere [expulsar a natureza]: com que resultado? “Plebe” usque recurret [volta sempre]. —” (Além de bem e mal [1886] § 264)

Aqui, Nietzsche lembra um verso de Horácio: “Ainda que expulses com um forcado, a natureza (isto é, a índole inata de uma pessoa) voltará a aparecer” (Versos de Horácio, Epístolas, I, 10, 24). Há algo da constituição de si que educação e cultura alguma fará de outro feito. Empenhar-se nesse projeto é manter aceso o desejo de enganar e ser enganado.

De fato, leitores precipitados verão em Nietzsche as marcas das incompreensões que sempre foi sujeito. Fascista. Nazista. Aristocratista. Diria, caricaturas, certamente. Nietzsche, filósofo da suspeita, desconfia das sentenças que tomam a mente e os corpos da maioria. Reconhece o movimento das culturas, mas não deixa de lhe impor juízo de valor. Se por um lado temos conquistas com a democracia, se por um lado a educação começa a atingir a população em geral, ele não será otimista quanto aos resultados propalados pela ilustração, pois verá nisso o movimento de aplainar a diferença, de eliminar a variedade, de fazer sucumbir o diverso. A não ser que tenhamos em mente que a democracia e a educação sejam motor para a diferença. E se assim for, precisamos de outros dispositivos culturais, políticos e educacionais.