Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Programa de Pós-Graduação em Educação
Argumentação, Estilo, Composição: Introdução
à Escrita Acadêmica
Tomaz Tadeu da Silva
Parágrafos:
estrutura e desenvolvimento
I.
Noções
gerais sobre parágrafo
- Parágrafos devem começar e terminar com ideias/informações importantes.
- Em geral, a frase inicial de um parágrafo anuncia a ideia principal,
aquilo do qual o parágrafo vai tratar.
- As frases do meio do parágrafo desenvolvem a ideia principal.
- A frase final deve sumariar, concluir, fechar a ideia introduzida no
parágrafo, antecipando a ideia do seguinte.
- Um parágrafo deve fazer sentido como um todo; suas palavras e frases
devem estar claramente conectadas.
- Cada parágrafo conecta-se com o anterior e com o seguinte.
II. Perguntas para verificar a estrutura e o
desenvolvimento de um parágrafo
- Qual é a frase-tópico (na nomenclatura de Faraco e Tezza, “frase-guia”)
de cada parágrafo? Ela é explícita ou implícita? Se explícita, em que lugar do
parágrafo ela
está?
- Existe alguma frase que não esteja relacionada com a frase-tópico? E
possível justificar sua inclusão?
- Cada parágrafo está organizado de forma a facilitar a leitura? De que
maneira as frases estão ligadas? É preciso acrescentar conexões? Há conectivos
que criam ligações inexistentes entre ideias? Há ideias que tem ligações, mas
que não estão assinaladas por conectivos? Há conectivos que criam ligações
inapropriadas?
- Cada parágrafo desenvolve a ideia-chave de forma completa? Que
estratégias de desenvolvimento são utilizadas? Elas são eficazes? Que outras
estratégias poderiam ser utilizadas? O parágrafo precisa ser mais desenvolvido?
- A primeira frase de cada parágrafo informa o leitor sobre o que o
parágrafo irá tratar? A última frase conclui, sintetiza, fecha a discussão
introduzida pela ideia principal?
- Há variação de tamanho entre os parágrafos? Há algum parágrafo
demasiado longo ou demasiado curto? Há alguma ideia que poderia ser destacada
por um parágrafo de uma única frase?
- De que forma os parágrafos estão ligados, conectados? E preciso
acrescentar alguma conexão/conectivo?
- Há alguma expressão de transição que cria ligações não existentes entre
parágrafos? Há ligações entre parágrafos que não estão assinaladas por
expressões de transição? Há ligações inadequadamente assinaladas?
- De que forma o parágrafo introdutório captura a atenção do leitor? Como
ele inicia? Com uma história, com uma pergunta, com uma afirmação forte?
Poderia começar de uma outra maneira?
- De que forma o último parágrafo efetua a conclusão? Deixa no leitor uma
última impressão que seja forte e marcante? Como termina? Com uma pergunta, uma
citação, uma imagem marcante, uma advertência, um apelo à ação? De que outra forma
poderia concluir?
III. Construindo parágrafos com unidade: foco em
uma ideia principal
1.
Colocando
a frase-tópico no início do parágrafo
- É a maneira mais comum de iniciar um parágrafo e de chamar a atenção
para a ideia principal, dizer imediatamente ao leitor de que se trata. As
frases subsequentes desenvolvem essa ideia principal:
Enquanto uns proclamam o fim da representação,
entretanto, outros reivindicam o direito à representação. Os questionamentos
lançados às epistemologias canônicas, às estéticas dominantes, aos códigos
culturais oficiais partem precisamente de grupos sociais que não se vêem aí
representados. Há uma revolta das identidades culturais e sociais subjugadas
contra os regimes dominantes de representação. É essa revolta que caracteriza a
chamada “política de identidade”.
2.
Colocando
a frase-tópico no fim do parágrafo
- Em geral, a
colocação da frase-tópico no início segue uma ordem lógica que vai do geral ao particular. A colocação da frase-tópico no final, ao contrário,
vai do particular para o geral:
Homem, branco ou heterossexual: identidades que, por
funcionarem como norma, não aparecem como tais. E o outro que é étnico. É o
outro, como homossexual, que aparece como identidade inteira e exclusivamente
definida pela sexualidade. A identidade feminina é marcada por falta em relação
à do homem. A identidade subordinada é sempre um problema: um desvio da
normalidade. Ela é, sempre, a identidade marcada. Como consequência, a pessoa
que pertence a um grupo subordinado carrega, sempre, toda a carga e todo o peso
da representação. Como identidade marcada, ela representa, sempre e
inteiramente, aquela identidade. No regime dominante de representação, a
identidade dominante é a norma invisível que regula todas as identidades.
3.
A fase-tópico
inicial reiterada na frase final do parágrafo
- É possível combinar as duas coisas: uma frase-tópico que inicia o
parágrafo e que é reiterada na frase final:
O fetiche deve sua existência à ambiguidade. É
simultaneamente europeu e africano. Apresenta-se como visceralmente material,
mas invoca, ao mesmo tempo, o que há de mais inapelavelmente
transcendental. É matéria e é espírito. Humano e divino. Conceito e coisa.
Autônomo e dependente. Tem um pé neste mundo e um olho no outro. O fetiche, num
mesmo movimento, afirma e nega. Fascina e repugna. Reafirma a centralidade do
sujeito europeu no mesmo gesto em que denuncia seu fascínio e curiosidade pelo
outro colonizado. Autentica, por um momento, a autonomia do sujeito apenas
para, no seguinte, pô-la em dúvida. O fetiche é presença e ausência. Aqui está
ele; já se foi. Olha ali: ele parece ter vida própria; olha de novo: já não tem
mais. Em sua metamorfose sexual, freudiana, movimenta-se constantemente entre o
todo e a parte, o genuíno e o substituto, o mesmo e o diferente. Quando põe sua
máscara social, marxiana, confunde coisa com gente e, inversamente, gente com
coisa. O fetiche é um ser ambíguo, híbrido, limítrofe, fronteiriço.
4.
A ideia-chave
está implícita
- A frase-tópico não aparece de forma explícita. Ela está implícita nas
outras frases presentes no parágrafo:
A verdade como ficção, invenção e criação. Uma visão
perspectivista e interpretativa do conhecimento. O conceito como produção e
intervenção e não como descoberta ou reflexo. A insistência no caráter
produtivo da linguagem. O privilegiamento da diferença e da multiplicidade em
detrimento da identidade e da mesmidade. Rejeição da transcendentalidade e da
originariedade do sujeito. O caráter heterogêneo, derivado, das formações de
subjetividade. A não- identidade do “sujeito” consigo mesmo. A opção por uma
genealogia em prejuízo de uma ontologia. A pesquisa não das essências e das
substâncias mas das forças e das intensidades. Insistência no “poder” de
inventar, fixar, tomar permanente e não na capacidade cognitiva de descobrir,
revelar, desvelar. Contra o duvidoso gosto pela essência, uma declarada
predileção pela aparência. Não a presença (do ser?), mas seu diferimento, sua
diferença, seu retardamento, seu espaçamento. Horror ao pensamento da negação e
da contradição. O devir em vez do ser. Não os valores mas sua valoração. Não a
moral mas sua proveniência. [Qual é a ideia-chave?]
IV. Características de uma boa frase-tópico
A frase-tópico não deve:
- ser vaga
- ser fraca
- ser geral
- ser óbvia
- esgotar-se em si mesma
A frase-tópico deve.
- ser instigante, instigadora
- ser problematizante
- ser intrigante
- ser forte
- permitir, exigir desdobramentos
- criar expectativas
- sugerir polêmica
- exigir demonstração, argumentação
Nos exemplos seguintes a versão “b” é melhor do que a versão “a”.
1. a) A linguagem descreve a realidade.
b) A linguagem não se limita a descrever a
realidade.
2. a) O discurso instaura verdades.
b) Em contraste com a compreensão do senso comum de
que o discurso se limita a descrever a realidade, alguns autores argumentam que
o discurso faz muito mais do que isso: ele produz e cria uma realidade própria,
ou seja, o discurso instaura verdades.
3. a) A escola transmite a ideologia dominante.
b) Mais do que transmitir o conhecimento
propriamente dito, a escola transmite os valores e as ideias dominantes, ou
seja, a escola transmite a ideologia dominante.
4. a) A filosofia da diferença teve origem na
França, na década de cinquenta.
b) A filosofia da diferença, teve origem na
França, na década de cinquenta, em resposta ao predomínio de filosofias como a
fenomenologia, com sua ênfase na consciência e no sujeito.
5. a) O conceito de diferença é muito
importante.
b) Por que se pode dizer que o conceito de diferença
é importante?
V. Estratégias de desenvolvimento de parágrafos
Como regra geral, evitar parágrafos compostos de uma
sequencia de frases vagas e genéricas. Procurar escrever frases que sejam
específicas, precisas, “concretas”. Desenvolver plenamente uma ideia principal
antes de passar para uma outra. A não ser que seja o objetivo explícito, não
juntar num mesmo parágrafo uma série de ideias de mesmo nível de importância.
Mal:
O discurso cria verdades. A verdade é um
efeito do poder. O saber é inseparável do poder. A verdade é produzida pelo
poder.
Melhor:
Estamos acostumados com a ideia de que a linguagem
simplesmente representa uma realidade que supostamente existiria fora e
independentemente dela. Assim, por exemplo, quando pensamos na natureza da
linguagem, tendemos a pensar em frases tais como “a maçã está sobre a mesa” que
expressaria um fato extralinguístico ou extra-discursivo. É para nós mais
estranha a ideia de que a linguagem não apenas representa alguma coisa, mas,
mais do que isso, cria alguma coisa. Nessa última perspectiva, o
discurso não se limitaria a descrever uma realidade que existiria fora e antes
dele, mas, antes, produziria uma nova realidade, uma realidade que não existia
antes. Assim, por exemplo, independentemente do fato de que seja efetivamente
verdade que “João é pouco inteligente”, se essa frase for reiteradamente
pronunciada acabará por criar como fato, na opinião das pessoas, de que
“João é pouco inteligente”. Assim como acontece nesse caso relativamente
simples, podemos dizer, de forma mais geral, que o discurso acaba por produzir
verdades.
1.
Ilustrar, exemplificar
- Uma das formas mais comuns e eficazes de desenvolvimento de parágrafos
consiste em ilustrar uma ideia através de um exemplo ou de uma série de
exemplos.
É fácil compreender que identidade e diferença estão
em uma relação de estreita dependência. A forma afirmativa como expressamos a
identidade tende a esconder essa relação. Quando digo “sou brasileiro” parece
que estou fazendo referência a uma identidade que se esgota em si mesma. “Sou
brasileiro” - ponto. Entretanto, eu só preciso fazer essa afirmação porque
existem outros seres humanos que não são brasileiros. Em um mundo
imaginário totalmente homogêneo, no qual todas as pessoas partilhassem a mesma
identidade, as afirmações de identidade não fariam sentido. De certa forma, é
exatamente isso que ocorre com nossa identidade de “humanos”. E apenas em
circunstâncias muito raras e especiais que precisamos afirmar que “somos
humanos”.
2. Definir
- Trata-se de uma estratégia muito comum nos textos dissertativos ou
argumentativos. Definir um conceito, neste caso, não significa simplesmente
fornecer uma definição do tipo que é dada nos dicionários, mas precisá-la, fornecendo
exemplos, distinguindo o conceito em questão de conceitos que lhe são próximos,
contrastando-o com conceitos opostos, etc.
Nesse contexto, a representação é concebida como um
sistema de significação, mas descartam-se os pressupostos realistas e miméticos
associados com sua concepção filosófica clássica. Trata-se de uma representação
pós-estruturalisla. Isto significa, primeiramente, que se rejeitam,
sobretudo, quaisquer conotações mentalistas ou qualquer associação com uma
suposta interioridade psicológica. No registro pós-estruturalista, a
representação é concebida unicamente em sua dimensão de significante, isto é,
como sistema de signos, como pura marca material. A representação expressa-se
por meio de uma pintura, de uma fotografia, de um texto, de uma
expressão oral. A representação não é, nessa concepção, nunca,
representação mental ou interior. A representação é, aqui, sempre marca ou
traço visível, exterior.
3. Dividir e classificar
- Dividir e classificar constituem, na verdade, uma única estratégia,
vista de dois pontos de vista diferentes. Utilizamos a divisão se partimos de
uma categoria mais ampla e a dividimos em duas ou mais subcategorias.
Utilizamos a classificação se efetuamos a operação contrária: partimos de dois
ou mais grupos mais restritos e os agrupamos numa categoria mais ampla. Assim,
por exemplo, posso dizer que as pessoas que fazem dieta estão divididas entre
aquelas que fazem dieta por questões de saúde e aquelas que fazem dieta por
questões de estética (divisão). Inversamente, posso dizer que as pessoas
que estão preocupadas com a estética e as pessoas que estão preocupadas com a
saúde formam dois grupos que tendem a fazer dieta (classificação). No
primeiro caso, parte-se das semelhanças para as diferenças e no segundo, das
diferenças para as semelhanças.
A perspectiva critica de
multiculturalismo está dividida, por sua vez, entre uma concepção
pós-estruturalista e uma concepção que se poderia chamar de “materialista”.
Para a concepção pós-estruturalista, a diferença é essencialmente um processo linguístico
e discursivo. A diferença não pode ser concebida fora dos processos linguísticos
de significação. A diferença não é uma característica natural:
ela é discursivamente produzida. Além disso, a diferença é sempre uma relação,
não se pode ser "diferente” de forma absoluta, é-se diferente
relativamente a alguma outra coisa, considerada precisamente como "não- diferente”.
Mas essa "outra coisa” não é nenhum referente absoluto, que exista fora do
processo discursivo de significação: essa “outra coisa”, o “não- diferente”, também só faz
sentido, só existe, na "relação de diferença” que a opõe ao
"diferente”. Na medida em que é uma relação social, o processo de
significação que produz a "diferença” se dá em conexão com relações de
poder. São as relações de poder que fazem com que a "diferença” adquira um
sinal, que o "diferente” seja avaliado negativamente relativamente ao
“não-diferente”. Inversamente, se há sinal, se um dos termos da diferença é
avaliado positivamente (o “não-diferente”) e o outro, negativamente (o
"diferente”), é porque há poder. [A concepção 'materialista ” é
discutida no parágrafo seguinte.]
Apesar de suas divergências - muitas, aliás - o
pensamento de Gilles Deleuze e o pensamento de Jacques Derrida podem ser,
ambos, caracterizados como a expressão de uma “filosofia da diferença”. A
diferença é, em ambos, um conceito central: em Deleuze, por meio do
desenvolvimento de uma “diferença em si mesma”; em Derrida, pela criação do
conceito de diffèrance. Questionam, ambos, o privilégio que a metafísica
concede à identidade em prejuízo da diferença: Deleuze ao colocar em questão o
“pensamento da representação”; Derrida, ao problematizar a “metafísica da
presença”.
4. Comparar e contrastar
- São duas estratégias
bastante comuns e eficazes de desenvolvimento de parágrafos. Comparar coloca
em evidência as semelhanças entre duas coisas (ver o exemplo imediatamente
anterior, sobre Deleuze e Derrida). Contrastar, por sua vez, salienta as
diferenças entre duas coisas. Há duas maneiras de fazer isso: 1. em bloco,
apresentando todas as características de uma das coisas e, depois, todas as
características da outra; 2. de forma alternada, focalizando, para cada
característica ou conjunto de características, ora uma, ora outra das coisas.
A diferença de Deleuze não é exatamente a diferença
de Derrida. Para Derrida, a diferença está estreitamente ligada à ideia linguística
de significação. O desenvolvimento que ele faz da noção de diferença não pode
ser separado de uma concepção do tempo como variável descontínua. Além disso,
apesar de sua rejeição de uma estratégia puramente negativa, o seu conceito de diffèrance
ainda permanece, de alguma forma, subordinado a uma certa ideia de negação.
Em Deleuze, por outro lado, o conceito de diferença está ancorado mais na noção
de expressão do que na de significação. Em contraste com Derrida, a noção de
tempo subjacente à sua concepção da diferença, é fundamentalmente, inspirado em
Bergson, de um tempo contínuo. Finalmente, seu projeto do desenvolvimento de
uma “diferença em si mesmo” rejeita terminantemente qualquer apelo ao mínimo
traço de negatividade. [Em bloco ]
A diferença de Deleuze não é
exatamente a diferença de Derrida. Enquanto que, para Derrida, a diferença está
associada à ideia de significação, para Deleuze, é a noção de expressão que é
central. Se para Derrida, a noção de tempo que serve para o desenvolvimento do
conceito de diffèrance é fundamentalmente a de um tempo descontínuo,
para Deleuze, em contraste, inspirando-se em Bergson, é a continuidade
do tempo que é fundamental. Finalmente, apesar de seus esforços para se desligar da negatividade da
dialética, enquanto Derrida continua preso a uma certa forma de negação.
Deleuze rejeita terminantemente qualquer apelo a uma estratégia negativa dc
pensamento, [Alternância]
5.
Articular
relações de causa (razão, motivo) ou efeito (consequência)
- É difícil pensar num texto dissertativo ou argumentativo que não
explore relações de causa (razão, motivo) ou efeito (consequência).'Evidentemente,
há muitas maneiras de apresentar processos de causa ou efeito, algumas mais explícitas,
nas quais são visíveis marcas linguísticas que assinalam esse tipo de relação (consequentemente,
logo, então, pois, assim, portanto, etc.), outras mais implícitas, nas
quais a relação está apenas sugerida. Na verdade, grande parte de um texto
dissertativo é feito de parágrafos cujo desenvolvimento consiste em justificar
(dar as razões) a afirmação contida na frase-tópico. “Por que podemos afirmar
isso?” Quer dizer, explicar (dar as razões de uma afirmação) é uma das
estratégias básicas de desenvolvimento de parágrafos num texto dissertativo.
Não se pode esquecer que a hibridização se dá
entre identidades situadas assimetricamente em relação ao poder. [POR OUÊ?] Os
processos de hibridização analisados pela teoria cultural contemporânea nascem
de relações conflituosas entre diferentes grupos nacionais, raciais ou étnicos.
Eles estão ligados a histórias de ocupação, colonização e destruição. Trata-se,
na maioria dos casos, de uma hibridização forçada.
6. Reiterar, parafrasear, retomar
- Outra vez, na medida em que o objetivo de boa parte dos parágrafos dos
textos dissertativos concentra-se em explicar ideias, eles são necessariamente
compostos de explicações, as quais, por sua vez, como todo bom professor sabe,
consistem em expressar de uma outra forma a mesma ideia: reiterar, parafrasear,
retomar.
Primeiramente, a identidade não é uma
essência; não é um dado ou um fato - seja da natureza, seja da cultura. A
identidade não é fixa, estável, coerente, unificada, permanente. A identidade
tampouco é homogênea, definitiva, acabada, idêntica, transcendental. Por outro
lado, podemos dizer que a identidade é uma construção, um efeito, um processo
de produção, uma relação, um ato performativo.
7. Combinar diversas dessas estratégias
- Normalmente, a composição de um parágrafo é feita
por uma combinação de algumas dessas estratégias. Pode-se, por exemplo, dar as
razões de uma afirmação, ao mesmo tempo que se ilustra a afirmação com
exemplos. O importante a
reter é que a construção de um parágrafo se dá por acumulação, progressão,
desenvolvimento. Não é por acaso que todas essas palavras (desenvolver,
desenrolar, desdobrar, explicar) estão etimologicamente relacionadas. Desenvolver
é des+envolver e envolver é enrolar. Assim, desenvolver é
desenrolar. Desdobrar, por sua vez, é des+dobrar. Finalmente, explicar é
ex+plicar e plicar vem de um verbo latino que significa dobrar. Logo, desenvolver
= desdobrar = desenrolar = explicar. (Poderíamos acrescentar a esses verbos os
verbos “envelopar” e “desenvelopar” que, vindos do francês, correspondem aos
nossos “envolver” e “desenvolver”). Pode-se pensar na ideia-chave que está
contida na frase-tópico como uma ideia concentrada, dobrada, envolvida,
“plicada”, que contém em si outras ideias que precisam ser desdobradas,
desenvolvidas, explicadas. Inversamente, podemos pensar nas frases que se desenvolvem a partir
da frase-tópico como expressando ideias que, se dobradas, envolvidas,
enroladas, “plicadas”, retornarão a seu estado “original”, compactado.
- Para finalizar, as duas regras fundamentais na
estratégia de desenvolvimento de parágrafos:
1.
NÃO pular de ideia para ideia no interior de um parágrafo, sem qualquer
transição. Cada uma das ideias deve estar relacionada com uma MESMA ideia
principal.
2.
Não ficar, entretanto, simplesmente REPETINDO a MESMA ideia, sem
acrescentar nenhuma informação nova. O parágrafo é ACUMULAÇÃO, PROGRESSÃO,
DESENVOLVIMENTO.
Em suma, não saltar, mas também não ficar no mesmo
lugar.