Silas Borges Monteiro
Professor Associado da UFMT
Coordenador do EFF e do Núcleo UFMT do
Projeto Escrileituras: um modo de "ler-escrever" em meio a vida
Não
saberia dizer o que é preciso ser feito para que um grupo de
pesquisa ganhe corpo. Tenho a tendência de achar que seus elementos
constituintes criam força pelo acaso. Algo, certamente, é fundamental: as pessoas que dele participam. E, talvez aí, resida o grande elemento casual: como trazer para ele
as pessoas que, como o coordenador, desejem que um grupo de pesquisa ganhe a
feição adequada de um grupo de pesquisa. Diferente
de uma empresa, um grupo, embora haja seleção
das pessoas que dele participam, não contrata seus membros. Seus participantes
movimentam-se em direção a ele pelas razões
mais diversas.
Não
sei como se faz um grupo de pesquisa. Imaginava que resultava de um movimento
de pessoas, quase espontâneo, em torno de um tema. Mas não me parece assim. Se não
consigo dizer como se faz um grupo, posso, ao menos, contar como se fez o que
eu lidero.
Do ponto de vista formal,
um grupo de pesquisa no Brasil ganha alcance e legitimidade quando registrado
no Diretório de Grupos do CNPq. Não
sei hoje, mas em 2004, bastava, com seus dados pessoais, criar o registro, como
se faz com uma página nas redes sociais, com a diferença que, depois de criada, deveríamos
avisar a Pró-reitoria de Pesquisa da Universidade e
aguardar que ela autenticasse o registro. Simples assim.
Entendi que começariam a fazer parte dele estudantes de graduação e pós-graduação
que estivessem sob minha orientação. Assim tem sido, mais ou menos. Vez por
outra, pessoas se aproximam das atividades do grupo. Geralmente, do mesmo modo
que vêm, vão.
O primeiro nome do Grupo
foi GEDFFE: Grupo de Estudos e Pesquisas em Didática,
Filosofia e Formação de Educadores. Didática
e Formação de Educadores nasciam de meu doutorado;
Filosofia de minha formação inicial. Desde 2012 é
EFF: Estudos de Filosofia e Formação. Acho que tem mais a feição atual.
O primeiro projeto de
relevância do Grupo foi financiado pelo FNDE
intitulado Acompanhamento e avaliação do
processo de implantação do
Plano de Desenvolvimento da Educação no
Estado de Mato Grosso, de 2007 a 2011. O segundo, aprovado no ano
seguinte e concluído em 2010 foi Quando profissionais tornam-se professores, financiado pelo CNPq. O terceiro projeto foi o PROCAD
(financiado pela CAPES), em duas versões,
desenvolvido de 2009 a 2013, contando com a parceria da USP sob a coordenação da professora Selma Garrido Pimenta, minha orientadora
de doutorado. Atualmente está em desenvolvimento, iniciado em 2011 com
conclusão prevista para 2014, Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio à
vida, financiado pela CAPES no edital Observatório da Educação CAPES/INEP. Outros projetos foram feitos ao
longo deste tempo, mas com feições mais pontuais, de um ano, deixando poucas
marcas no grupo. Houve um momento importante no GEDFFE: a organização do Seminário Educação do
Instituto de Educação da UFMT, no ano de 2007. Deu fôlego e motivação ao
Grupo. Nosso pequeno grupo, com muita ajuda, claro, organizou o evento,
trazendo de volta os Anais impressos do Seminário,
algo descontinuado nos anos anteriores. Foi bonito, elegante, chamou muito atenção. O sucesso do evento deveu-se muito ao trabalho da Cláudia Moreira e Renata Cabrera. Esse movimento trouxe
muita gente ao redor do grupo. Mas, como vieram, foram. Embora tenha sido
grande o vigor do momento, esgotou-se em 2010. Era preciso morrer o GEDFFE para
nascer o EFF, movido pelo Observatório da Educação
com o projeto Escrileituras, em
parceria com UFRGS, UFPel e UNIOESTE, sob a coordenação da
professora Sandra Mara Corazza.
O EFF tem, basicamente, três interesses: a educação, a
filosofia e a saúde. Vejo nexos profundos entre estes
interesses. Eles criam um ambiente produtivo mobilizado por uma das principais
indagações que movem as pesquisas que eu oriento: como tornar-se o que se é. Essa questão
nascida do título de um dos últimos
livros escrito por Friedrich Nietzsche indaga pelo estilo em que as pessoas se
constituem e se tornam no que são. Mas Nietzsche não é único. Frequentemente seus leitores mais
interessantes aparecem: Heidegger, Deleuze, Derrida, Rorty, cada qual com uma
aproximação peculiar, criando um caleidoscópio conceitual e criativo, ao menos aos meus olhos.
Embora saiba que Caetano Veloso tenha feito uma linha da música
Sampa exatamente para mim. As figuras
mais presentes são Nietzsche e seu conceito de vivências ao lado de Jacques Derrida com seu conceito de
otobiografia, reinventado pelas nossas pesquisas.
Como disse, não sei como se faz um grupo de pesquisa. Nem exatamente
como ele acaba. Talvez haja mais a ser dito enquanto dura...