Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Programa de
Pós-Graduação em Educação
Argumentação, Estilo,
Composição: Introdução à Escrita Acadêmica
Tomaz Tadeu da Silva
9 maneiras de fechar um texto
O parágrafo final,
tal como o inicial, tem uma posição privilegiada na estrutura de um texto. É
ele que dá a amarração final ao texto. Evidentemente, o tom e a forma do
parágrafo final, assim como acontece com o parágrafo inicial, depende muito da
natureza do texto. Assim, um texto puramente técnico, descritivo, não poderia
terminar com algum tipo de apelo de ação, enquanto, por outro lado, tal tipo de
apelo se ajustaria bem a um texto de caráter político, religioso ou moral. Em
geral, entretanto, espera-se que o parágrafo final, de alguma forma, sintetize
e resuma os temas principais do texto.
1. Interpelação direta
ao leitor
Em geral, em
textos dissertativos, utilizamos um modo de endereçamento ou interpelação
impessoal e indireto (“deve-se”, “devemos”, “sabe-se”, “sabemos”, etc.). A
adoção de um modo de interpelação direta (“ei, você aí!”), em geral repentina e
inesperada, como nos exemplos abaixo, tem um efeito retórico bastante
interessante.
Integre-se, pois, à corrente. Pluge-se. Ligue-se. A
uma tomada. Ou a uma máquina. Ou a outro humano. Ou a um ciborgue. Torne-se um:
devir-ciborgue. Eletrifique-se. O humano se dissolve como unidade. É só
eletricidade. Tá ligado?
(Tomaz Tadeu da Silva, “Nós, ciborgues: o corpo
elétrico e a dissolução do humano”, Antropologia do ciborgue. As
vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2000: 9-17. P. 16).
Hoje, o campo expressa não o desejo de afirmação do
estereótipo envelhecido da bicha louca, mas o desejo de empreendermos todos,
das mais diversas sexualidades e sensualidades, uma nova educação sentimental,
não pela busca da autenticidade de sentimentos cultivados pelos românticos, mas
pela via da teatralidade, quando, apesar da solidão, para além da dor maior da
exclusão, da raiva e do ressentimento, possa ainda se falar em alegria, em
felicidade. Faça uma pose. Eu faço. Agora.
(Denilson Lopes. “Terceiro manifesto camp”. O
homem que amava rapazes e outros ensaios. Rio: Aeroplano, 2002: 89-120. P.
113)
2. Uma história, uma anedota
Questionado sobre sua História da
sexualidade, Foucault respondeu, certa vez, que não pretendia escrever uma
arqueologia das fantasias sexuais, mas sim uma arqueologia do discurso sobre a
sexualidade e que esse discurso era “uma relação entre o que fazemos, o que
estamos obrigados a fazer, o que nos está permitido fazer, o que nos está
proibido fazer no campo da sexualidade; e o que está proibido, permitido, ou é
obrigado a dizer sobre nosso comportamento sexual” (Foucault, 1996, p. 91).
Acho que foi disso que procurei tratar aqui: das formas e das instâncias onde
aprendemos esse discurso, de nossa apropriação e uso de uma linguagem da
sexualidade que nos diz, aqui, agora, sobre o quer falar e sobre o que
silenciar, o que mostrar e o que esconder, quem pode falar e quem deve ser
silenciado. Procurei mostrar, também, que podemos (e devemos) duvidar dessas
verdades e certezas sobre os corpos e a sexualidade, que vale a pena pôr em
questão as formas como eles costumam ser pensados e as formas como identidades
e práticas têm sido consagradas ou marginalizadas. Ao fazer a história ou as
histórias dessa pedagogia talvez nos tornemos mais capazes de desarranjá-la,
reinventá-la e torná-la plural.
(Guacira Lopes Louro. “Pedagogias da sexualidade”.
In Guacira Lopes Louro. O corpo educado. Pedagogias da sexualidade.
Belo Horizonte: Autêntica, 1999: 9-34. Parágrafo final, p. 33)
3. Uma pergunta
Mas a questão da sexualidade permanecerá central
para os debates sociais e morais? (...) O trono do “Rei Sexo” está começando a
balançar? E, se isso está acontecendo, qual é o seu significado? Tudo que
aprendemos sobre a história da sexualidade nos diz que a organização social da
sexualidade nunca é fixa ou estável. Ela é modelada sob circunstâncias
históricas complexas. Na medida em que entramos no período conhecido como
“pós-modernidade”, é provável que vejamos uma nova e radical mudança nos modos
como nos relacionamos com nossos corpos e com suas necessidades sexuais. O
desafio será compreender, de uma forma mais efetiva do que no período da
modernidade, os processos que estão em ação nesse campo.
(Jeffrey Weeks. “O corpo e a sexualidade”. In
Guacira Lopes Louro. O corpo educado. Pedagogias da sexualidade.
Belo Horizonte: Autêntica, 1999: 35-82. Parágrafo final, p. 80)
Instituídos por este novo complexo
científico-pedagógico, os Pareceres Descritivos exercem um novo poder de
julgar, por colocar a criança em processo permanente de claridade, de produção,
de normalização e patologização, até que ela mesma interiorize sua própria
transparência e possa se tornar um civilizado indivíduo ocidental
auto-normalizado. A suavidade de seu olhar, dita humanizante, está investida
como técnica de poder, e é isto que o discurso educacional contemporâneo
prossegue, reiteradamente, escamoteando. Até quando continuará olhando para
esses olhos de poder sobre o currículo, de maneira inocente?
(Sandra Corazza. O que quer um currículo?
Pesquisas pós-críticas em educação. Petrópolis: Vozes, 2001. Parágrafo
final do capítulo 2, p. 55)
4. Apelo à mudança (pessoal, social, etc.)
Como sabemos, trata-se de uma maneira
muito comum de concluir um texto na literatura educacional. Embora
perfeitamente legítima, é possível pensar em outras maneiras de fechar um
texto. Além disso, ainda que permanecendo no gênero da “prescrição”, pode-se pensar
em formas de variá-lo.
Para que essas conversas se tornem até mesmo
pensáveis em relação à educação é preciso que as educadoras e os educadores se
tornem curiosos sobre suas próprias conceptualizações sobre o sexo, e ao
fazê-lo, se tornem abertos também para as explorações e as curiosidades de
outros relativamente à liberdade do “domínio imaginário”. (...) Quando pudermos
estudar as histórias que o sexo provoca, as perversidades que ele pode imaginar
e exercitar, então, provavelmente, nos envolveremos também no estudo de onde o
conhecimento entra em colapso, torna-se ansioso, é construído outra vez. O
currículo movimenta-se em direção ao polimorficamente perverso e à noção de
erotismo de Bataille: o problema torna-se, então, o de formular questões que
possam desestabilizar a docilidade da educação.
(Deborah Britzman. “Curiosidade, sexualidade e
currículo”. In Guacira Lopes Louro. O corpo educado. Pedagogias da
sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999: 83-111. Parágrafo final, pp.
109-110)
5. Afirmação de uma convicção
pessoal
Motivada pelos testemunhos e pelas reflexões de
tantas estudiosas e estudiosos, acredito que o processo de construção dos
estudos feministas e os seus desafios atuais são hoje, como foram antes,
desafios epistemológicos. (...) Para responder a esses desafios parece
necessário que mantenhamos vivas a capacidade de ousar e de transgredir,
utilizando criativa e criticamente as teorizações feministas, bem como
acolhendo o questionamento de outros campos de estudo. (...)
(Guacira Lopes Louro. Currículo, gênero e
sexualidade. Porto: Porto Editora, 2000. Final do capítulo 1, p. 22-3)
6. Reiteração, paráfrase,
retomada dos temas principais do texto
É a voz socialmente autorizada que inclui e exclui
sujeitos e conhecimentos, determinando não apenas quais as identidades ou os
saberes que podem integrar o currículo, mas também como essas identidades e
saberes deverão aí ser representados. (...) No interior das instituições
educacionais acontece uma parte importante desta disputa e, por isso, somos
obrigatoriamente convocados/as. Afinal, qual é o nosso lado?
(Guacira Lopes Louro. Currículo, gênero e
sexualidade. Porto: Porto Editora, 2000. Final do capítulo 3, p. 57)
7. Uma citação
É possível concordar com Stuart Hall (2000, p. 104)
quando diz que a identidade é um desses conceitos que a perspectiva
desconstrucionista colocou “sob rasura”; isto é, conforme explica, um conceito
que talvez “não seja mais ‘bom para pensar’ - na sua forma original, não
reconstruída”. Parece-me que no terreno da teorização educacional, o conceito
de identidade cultural, tomado no seu caráter de multiplicidade, fluidez e
instabilidade ainda pode ser útil. (...)
(Guacira Lopes Louro. Currículo, gênero e
sexualidade. Porto. Porto Editora, 2000. Penúltimo parágrafo do capítulo 5, p.
107).
8. Seqüência de
substantivos/orações substantivas ou adjetivos/oracões adjetivas
Dança-jogo-sonho antidialético e anti-religioso -
leve, móvel, aéreo, ubíquo, inocente, gracioso, pueril, irreverente - de
Dionísio-Criança, com seus brinquedos. De Dionísio-Constelação, com Ariadne no
céu como estrela dançante. De Dionísio-Senhor-do-Eterno-Retomo, que reproduz o
diverso no coração da síntese kantiana. Repete a diferença, pela vontade de
poder reunida às forças postas em relação pelo acaso. Contraria a adiaforia.
Nega o estado terminal e o de equilíbrio. E, acima de tudo isso, opõe-se a
nosso caro, e tão custoso. Princípio de Identidade.
(Sandra Corazza. O que quer um currículo? Pesquisas
pós-críticas em educação. Petrópolis: Vozes, 2001. Parágrafo final do capítulo
3, p. 76)
9. Orações infinitivas
Enfiar-se na leitura é en-fiar-se no texto, fazer
com que o trabalho trabalhe, fazer com que o texto teça, tecer novos fios,
emaranhar novamente os signos, produzir novas tramas, escrever de novo ou de
novo: escrever. (Jorge Larrosa. Pedagogia profana. Danças, piruetas
e mascaradas. Porto Alegre: Contrabando, 1998. Parágrafo final do Capítulo 6,
p. 183)
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